segunda-feira, 21 de abril de 2008

"Amarcord": Fellini prova que recordar é viver

Marcelo Silva

O filme "Amarcord", lançado em 1973 e dirigido por Federico Fellini, é considerado por muitos críticos a obra-prima do cineasta italiano. A trama se desenrola numa pequena cidade da Itália, no final dos anos 30, onde a vida de um vilarejo é relatada segundo a ótica do garoto Titta ( Bruno Zanin) - uma espécie de alter-ego do diretor. Nos deparamos, então, com pessoas comuns, vivendo suas vidas numa vila longe dos grandes centros e - consequentemente - longe dos grandes acontecimentos.

A palavra "Amarcord" é derivada de "mi recordo", expressão utilizada na região de Emilia-Romagna, onde Fellini nasceu e que significa algo como "eu me recordo". Daí, percebe-se que o diretor deseja contruir um mosaico de recordações neste que é, sem dúvida, seu trabalho mais auto-biográfico. Para o funcionário público Paulo César Morais, o filme é a obra mais bem acabada do cineasta: "Esse é o filme mais completo dele. Pra mim, representa o auge do Fellini. Tem aquela nostalgia dele, o humor irônico, um pouco de política..."

A narrativa não-linear demonstra a vontade do diretor de romper com o tradicional "começo-meio-fim" das produções norte-americanas, pois a película não se prende a uma sequência rígida no desenrolar dos acontecimentos, que vem e vão com naturalidade. Porém, apesar desse aparente relaxamento da narrativa, temos um filme muito bem amarrado. Toda a história do vilarejo se passa no período exato de um ano, representado pela chegada da primavera no início do filme - fenômeno que volta a se repetir no final da película.

Trata-se de um clássico. E, como tal, repleto de cenas clássicas: o garoto Titta sendo quase esmagado pelos seios enormes da dona do armazém, o tio louco de Titta em cima de uma árvore gritando "voglio una dona!" (eu quero uma mulher!), o desfile fascista, a cena dos garotos no carro, a passagem do transatlântico pelo vilarejo... E tudo isso embalado pela trilha sonora espetacular de Nino Rota. Em "Amarcord", Fellini prova que recordar é viver.

Assista trechos do filme:

http://www.youtube.com/watch?v=Au02p8huOuU

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