segunda-feira, 2 de junho de 2008

Há 20 anos o Supercarioca chegou

Marcelo Silva

Em 1988, o rock nacional ainda buscava uma cara própria. Depois da
afirmação dos primeiros anos, muitos dos grupos surgidos nos anos 80 começariam a se repetir. Ficava evidente a necessidade de um som que fosse além das influências americanas e inglesas. O grupo Picassos Falsos, formado em 1985, teve a ousadia de arriscar. Há 20 anos, a banda - integrada por Humberto Effe (violão e vocal), Gustavo Corsi (guitarra), Romanholli (baixo) e Abílio Rodrigues (bateria) - lançava seu segundo Lp, "Supercarioca", onde rock e funk se unem a ritmos brasileiros como o baião e o samba.

"Eu acho que eles já tinham essa intenção desde o começo. O primeiro disco deles cita Ismael Silva logo em "Carne e Osso", que é a primeira música. Citam Tim Maia também...Então, pra mim, não foi por acaso que eles resolveram se aprofundar em Supercarioca, misturando os ritmos em vez de ficar apenas fazendo referência", afirma o músico Roberto Tavares.

Outro fator foi importante na parte conceitual do disco: as tragédias provocadas pelas fortes chuvas do verão de 88. "Eu lembro que naquele carnaval nem teve desfile das campeãs por causa das chuvas. Teve uma casa que desabou na Abolição...", afirma o aposentado Mauro Valeriano. Três canções mencionam o acontecimento de maneira mais direta: o samba-rock "Rio de Janeiro" e as músicas intituladas - não por acaso - "Fevereiro" e "Fevereiro II".

A busca do grupo por um novo som fica clara na primeira música. "O disco abre com "Retinas", que é muito legal. Ela começa com um pandeiro que tem um quê de baião mas também parece com macumba. E o Humberto cantando por cima num meio termo entre o rap e o repente nordestino", declara Roberto Tavares. A partir daí, a banda conduz o ouvinte em uma viagem que aproxima o rock do Brasil e - principalmente - do Rio de Janeiro. Aproximação que é feita não só no som mas também nas letras: "Supercarioca" - como na faixa título - está repleto de referências às "coisas do Brasil": samba, carnaval,violência, malandragem...

"Eu acho que o Manguebeat deve muito a Supercarioca. Aliás, o pop brasileiro atual também", resume Roberto Tavares.




Nenhum comentário: